sábado, 19 de setembro de 2015

O que mais temo na morte?











                      Ao contrário do senso comum, o que mais me deixaria tranquilo ao morrer seria se realmente esta representasse  o fim de tudo. Afinal, nesse cenário eu mesmo teria construído o significado da minha inexplicável vida, uma mera obra do acaso, sem qualquer responsabilidade por qualquer coisa ao meu redor. Minha vida teria  sido minha própria teologia, acreditando no que me convém, eu teria sido o senhor de mim mesmo, seguindo as receitas da filosofia secular e do estilo 'carpe diem'. Sim, eu teria sido meu  Deus e minha vida um culto a este, com a lógica e a razão  minhas liturgias sagradas.

                       Contudo, em verdade o que mais me faz temer na morte é considerar que esta não é de fato o fim, que todas as minhas premissas eram falsas, toda a vida uma ilusão. Receio saber que não existia esquerda, nem direita e todas as correntes ideológicas eram tremendas inutilidades. 
Seria desconcertante ver que toda a minha vida não fazia sentido e o direcionamento lógico que dei a a ela uma verdadeira piada. Seria duro vê minhas máscaras caindo e as amargas muralhas sentimentais  que tanto lapidei indo a abaixo junto com meu orgulho em um simples piscar de olhos.
                     Temo imensamente vê  em retrospecto minhas atitudes egoístas e ter deixado muitas vezes de ter sentido indignação diante da pobreza, da fome e toda forma de injustiça social para me sentir mais confortável.
                       Sofro  em pensar que não lutei incansavelmente pela única coisa que valia a pena, amar ao próximo e a si mesmo. Se não existir um fim, descobriria que nada possuí, nem bens materiais, nem mesmo minha família, nem filhos,  que tudo era fragmentos do caminho, um grande processo de aprendizado.
                  Por fim, temo, nesse contexto da morte, descobrir verdadeiramente quem  Eu Sou, sem cortinas, sem sombras ou jogos de luzes, simplesmente eu desnudo diante de mim mesmo e o quanto poderia ter feito tudo tão diferente.
                      Portanto, considerando minha condição humana, rogo a Deus que exista um fim, que simplesmente voltemos ao pó, pois seria menos doloroso do que enfrentar a verdade do universo em detrimento de nossa pequenez racional. Descobrir que minha realidade construída não é um verdade seria pesaroso demais, uma segunda morte.  Voltando ao pó, a morte, portanto, seria mais suave.

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