segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Saúde ou sociedade em Colapso?








                           Porque vivemos uma crise no sistema de saúde brasileiro? O velho clichê político insiste em afirmar que o problema é financiamento, alguns mais estudiosos certamente falarão que o maior problema é a má qualidade gestora. Ambos estão certos e errados ao mesmo tempo. De fato, nosso modelo de sociedade sempre exigirá custos crescentes  para manutenção desse sistema, sendo portando insustentável no longo prazo, assim fatalmente colapsará. Na outra vertente, de fato existe uma incompetência para gerenciar os parcos recursos existentes, foram anos de  gastos sem estudos, sem definições de prioridades com evidências, sendo o principal  guia a pasta política em detrimento das necessidades da sociedade. Contudo, no atual modelo, mesmo a frente os melhores executivos de saúde, o sistema também não resistirá. Mas afinal, que modelo doente é esse?
                   O modelo de saúde nada mais é que o reflexo da sociedade e sofre dos mesmos problemas sistêmicos que a educação e a questão da violência crescente. A base para o problema dos 3 setores é comum: O desrespeito a vida. Como assim? Nessa sociedade o que é valorizado é o consumo em detrimento da necessidade, o excesso de conhecimento sem utilidade, os recursos concentrados nas mãos de poucos e a falta de comprometimento ético  das relações humanas,  sendo os interesses individuais  de poucos sempre se sobressaindo as necessidades coletivas.
                         As escolas viraram locais para "deixar os filhos", os educadores se transformaram em professores pragmáticos, a saúde em fútil mercadoria de consumo e o homicídio banal. E ainda existem pessoas que acreditam que resolveremos o problema da segurança com mais policiais e armas, mesmo sabendo do exército de miseráveis que vivem ao nosso redor, algo em torno de 700 mil em Fortaleza.
                        Não há saída, precisaremos reconstruir tudo  com foco no respeito a vida e a dignidade humana. Só faz sentido escolas que ensinem as crianças a amar a servir ao bem comum, ao invés de projetar nas crianças um padrão de sucesso  financeiro competitivo e acirrado, o que tem sido causa do crescente número de doenças mentais, um a cada dois seres humanos terão depressão nesse modelo de sociedade.
                    Se não mudarmos o padrão de consumo,  com hábitos alimentares e de vida mais simples, comportamento ético, focado no bem comum e sentimento de comunidade, presenciaremos o colapso de nossa humanidade, doentes organicamente e mentalmente, um exército de zumbis focados apenas em satisfazer suas necessidades mais primitivas.
                  A crise do sistema de saúde pública jamais será resolvido olhando apenas para  o SUS, será preciso antes a sociedade definir melhor suas prioridades com foco na vida humana, o recurso investido que não agregar valor a vida, deve ser considerado desperdício e automaticamente redirecionado para este fim. Enquanto não compreendermos isso, toda modificação será apenas  uma falácia de curto prazo.

Oratória MBA FGV




DISCURSO DE CONCLUSÃO DA 1 TURMA DE EXECUTIVOS DA SAÚDE DA FGV CEARÁ


Orador:  Breitner Chaves

            Custos crescentes e insustentáveis, inabilidade técnica gestora, visão de curto prazo, má qualidade dos serviços, insatisfação dos usuários, erros  assistenciais graves, todos esses são apenas alguns do complexos problemas daquilo que se tornou o sistema  de saúde brasileiro, o SUS. Um verdadeiro gigante desconfigurado em relação ao  modelo de proteção social proposto no pós-ditadura, idealizado como fruto do sonho dos reconquistadores da liberdade em várias esferas da sociedade. Mas afinal, como os executivos da saúde irão lidar com esse cenário no século 21?
                 O primeiro passo acabamos de concluir, ousamos sair da zona de conforto de nossas áreas assistenciais para nos capacitarmos tecnicamente para o enfrentamento desse desafio. Contudo, para a resolução sistêmica desses problemas ainda nos serão necessários algumas ponderações.
                  Por muitos anos acreditamos no modelo mental, politico, biológico e filosófico cartesiano. Causa e efeito, correlações de fatores, explicações matemáticas do mundo e das relações de suas partes. Fomos forjados na máxima newtoniana em que as partes explicam o todo, a famosa “Máquina do mundo” guiou toda nossa base social. Para piorar, mecanizamos até nossas relações humanas, e tentamos, a todos custo, encaixar a vida na “curva em forma de sino”( Curva de Gauss) que não passa de um modelo matemática teórico, muito distante da vida real e dos fenômenos sociais.
             O comando e controle taylorista das unidades de saúde já não é capaz de lidar com a realidade complexa dessa década e muito menos das próximas. O setor  saúde exige pensadores sistêmicos, homens e mulheres que apontem novos caminhos, novos modelos. Lideranças criativas e inovadoras, dispostas a proporem uma verdadeira revolução no setor.
                   Heisenberger, físico alemão, diante da ainda incipiente descobertas do mundo subatômico em sua época falou: “O que nós observamos não é a própria vida, mas a vida exposta ao nosso método de indagação”. Ele falou isso referindo-se ao estranho comportamento do elétron, que ora se comportava como matéria (partícula), ora como onda, dependendo da forma como o observarmos. Essa descoberta fez com que mente e matéria deixassem de ser insolúveis como imaginou descarte. Com base no mundo subatômico, a mente do observador poderia alterar a própria realidade, moldar o comportamento da matéria. Uma ruptura de paradigma sem precedentes.
                  Trazendo para nossa realidade, questiono-me se, diante de todos esses problemas, estamos fazendo  a pergunta certa, observando pelo ângulo correto? Talvez estejamos tão focados procurando soluções para o ciclo processos, custeio, financiamento que dedicamos pouco tempo para refletirmos estrategicamente sobre as perguntas chaves, aquelas atinjam o núcleo central dos problemas.
                O novo executivo muito mais que um engenheiro de soluções, deverá ser hábil na arte de realizar  perguntas incisivas, cirúrgicas, no momento certo. A boa pergunta, transforma a resposta irrelevante e pequena. Nessa perspectiva, modelos de causa e efeito fazem muito pouco sentido.
                Antes de qualquer avanço real, teremos que responder algumas questões nucleares, como por exemplo: Porque  nosso modelo de saúde não respeita a vida humana? O que nos faz considerar normal seres humanos nesse exato momento morrerem em corredores de hospitais de forma indigna? O que verdadeiramente nos impede de construir um sistema ético, ou seja, focado no bem comum? Perguntas desafiadoras destroem paradigmas e transformam o mundo.  Na obra pequeno príncipe, encontramos uma exortação desconcertante e que cabe adequadamente nos dias de hoje: “O essencial é invisível aos olhos, e só é possível se vê bem com o coração”

            Tenho certeza que esse grupo de executivos, guiados pela convicção de seus corações, alinhado com suas capacidades técnico-cognitivas, sairá daqui preparado para a busca de soluções sistêmicas ante os problemas complexos que esse novo século  exige. Somos uma equipe, conectados, a frente de diferentes instituições, conscientes de nossos papeis na construção de um mundo melhor, mais sustentável, ético e humano.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Diálogos de uma lápide.



                        





                           Muitos temem pensar em  seu fim, mas entendi que eu sou um hiato entre a vida e a morte. Resolvi escrever poesia após compreender que mais importante que "salvar vidas" é cuidar de todas as formas de vida. Resolvi pensar no que estará escrito em minha lápide para moldar todo meu comportamento nessa passagem. Lá é onde escrevemos nossa ultima poesia, aquilo que foi mais importante  para você em vida, por isso é um assunto que levo muito a sério. Parei de sofrer com o carpe diem, pois ele gera  muita ansiedade, prefiro pensar como rubem alves, "há momentos efêmeros que justificam um vida inteira". Nesse momento estou em gramado, minha filha sorri ao levar as mãos aos olhos acreditando ficar invisível,  aponta sorrindo para as aves, imita todos os animais, esconde-se entre colunas, ensaia um "papa"... são pequenos momentos como esses  que tornam a vida eterna. Uma pena  que poucas pessoas escolherão a ultima poesia, a última sonata. Depois de muito pensar decidi, quero que em minha lápide esteja escrito assim:

                   "Aqui adormece um homem que devolve a natureza a beleza que ela lhe emprestou
                                                                 Dialogou com a vida
Foi amante da terra e dos pássaros
Encantou-se com todas as sutilezas das vegetações
Queimou de paixão
Amou, amou e amou"