sábado, 17 de dezembro de 2016

Incompletude









"A maior riqueza
do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado"
(Manoel de Barros)




Sou uma pedra incomum, insisto em não ocupar posições cômodas e confortáveis. Não tolero a entropia zero e  a calmaria da procrastinação. Lanço-me sob o desconhecido sem olhar a altura do despenhadeiro e fujo do conhecimento acovardado dos especialistas.Aventuro-me no geral e aprecio o singular, devoro-me em noites sem fim  em busca de conhecimento reflexivo.Embriago-me de ler mariposas e lampenjos de vento. Depois de muita análise, constatei que não sou normal, habito a periferia da curva de gauss, sou aquele ponto improvável e insurportável. Prefiro o coaxar dos sapos as vozes espinhosas e vazias. Sou verdadeiramente inconstante e abrupto. Sangro para agitar o conformismo sedutor e desafiar os seres pensantes e irracionais. Tenho uma pedra angular em minha alma, que não se encaixa, que causa desconforto e faz-me impulsionar para frente. Minha incompletude é o que me faz seguir, se para uns é martírio, para mim, é a salvação.




"Meu quintal é maior do que o mundo.
Sou um apanhador de desperdícios:
Amo os resto"
(Manoel de Barros)




O poeta do absurdo ( Manoel de Barros)











Manoel de Barros foi um daqueles gênios que quando partiu deixou o mundo mais doloroso.Sua poesia era anestesia para inúmeras enfermidades, chagas até então incuráveis. Diria que era um antídoto para o espirito. Suas palavras absurdas, inteligíveis e irracionais nos forçava a olhar  a vida sob uma nova perspectiva. Era um disturbardor, um agitador de referências. Poderia dizer que sua poesia anárquica rasgava qualquer métrica, qualquer resquício de racionalidade formal. Obrigado, pois  me achei em seus cacos interiores.





Retrato do artista quando coisa


A maior riqueza

do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto
sou abastado.
Palavras que me aceitam
como sou
— eu não aceito.
Não aguento ser apenas
um sujeito que abre
portas, que puxa
válvulas, que olha o
relógio, que compra pão
às 6 da tarde, que vai
lá fora, que aponta lápis,
que vê a uva etc. etc.
Perdoai. Mas eu
preciso ser Outros.
Eu penso
renovar o homem
usando borboletas.