sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Como será a medicina no futuro?









"Difícil de ver, sempre em movimento está o futuro" (mestre yoda)



                    Meu personagem favorito no filme "Star Wars" sempre foi o mestre Yoda. Ele é essencialmente um pacifista que reúne uma grande sabedoria, com profunda técnica jedi e uma força impressionante. Ele possuía ainda  um dom especial de antecipar o futuro em algumas situações. Mas mesmo para o velho mestre, o futuro era algo muito incerto, pois as possibilidades eram infinitas em razão da complexidade da vida e dos desdobramentos do altruísmo e generosidade (a força) e o egoismo (o lado mal da força), ambos presentes em um mesmo espectro possível no coração dos seres humanos. 
                Assim, ouso aqui registrar algumas tendências que visualizo para o futuro do setor da saúde, baseado em rastros do presente.
               Certamente você já se perguntou: Como será a relação médico paciente nos próximos 10-20 anos? Qual será o impacto da inteligência artificial na medicina ? Internet das coisas? Blockchain? Sem dúvida muita coisa irá mudar, vejamos alguns pontos que já fazem interseção com o presente.
            A Inteligência  Artificial (IA) está atingindo seu apogeu, sua aplicação na saúde são inúmeras. Sistemas de saúde, unidades hospitalares, apoio diagnóstico, melhora da segurança dos pacientes e experiência desses.  
                  IA pode analisar com maestria o complexo banco de dados dos sistemas de saúde, orientar tendências aos gestores, identificar grupos de riscos, padrões de consumo e apoiar na decisão médica. Um outro papel importante da IA seria na regulação de pacientes, ela pode sugerir readequação de perfis clínicos na rede, apoiando os reguladores na difícil missão de visualizar milhares de variáveis em centenas de pacientes espalhados pelas unidades hospitalares. O Watson da IBM já é uma realidade para apoio na conduta dos pacientes oncológicos. IA para diagnóstico radiológico cresce a cada dia de forma que certamente em pouco tempo fará pouco sentido existir médicos radiologistas atuando como vemos nos dias de hoje.
                 A internet das coisas permitirá um interação com a condição de saúde individual em tempo real, controle glicêmico por sensores, monitoramento de parâmetros vitais, identificação do humor na prevenção de depressão e outros transtornos relacionados a saúde mental. Dezenas de sensores em domicílio, roupas e outros utensílios serão verdadeiros guardiões da promoção de saúde e medicina preventiva em vários níveis.
             O blockchain é a tecnologia por trás de moedas digitais como Bitcoin, tal tecnologia vem crescendo para o uso em vários setores. Ela não só sinaliza substituir todos os cartórios e registros de contratos, como na saúde, substituir as velhas e inadequadas certificações digitais.Uma outra e mais valiosa contribuição do blockchain é a universalização dos prontuários dos indivíduos, que finalmente serão donos de seus registros médicos e poderão, inclusive, ter autonomia para negociar suas informações pessoais de saúde para pesquisas na indústria farmacêutica.
              No Ceará, iniciamos o Projeto Argus,  uma inteligência que irá ser o guardião dos pacientes hospitalizados, em unidades ou domicilio. O Argus indicará pacientes com risco de ter parada cardíaca, infecção, sepse, apontará a equipe assistencial situações de risco, tornará o centro cirúrgico e UTI mais seguros e indicará o nível de conformidade de procedimentos por profissional, intervindo em situações que ameacem a segurança dos pacientes. Um grupo de médicos, engenheiros e profissionais de TI já iniciaram esse projeto que se mostra ser um dos mais relevantes em desenvolvimento para o setor, atraindo olhares de investidores. Este projeto vem sendo desenvolvido por uma Start Up cearense, Integrare Health Technology, em parceria com CEFET, e possui financiamento público e privado de investidores.
                  O atual modelo de atenção primária não atende mais as novas necessidades humanas. Cada vez mais os atuais agentes de saúde deverão migrar para o mundo virtual para se tornarem verdadeiros "coachs de saúde". Os territórios de saúde serão virtuais, não mais baseados em CEP, mas inspirados em afinidades, padrões comportamentais e de doenças crônicas. Robôs irão construir e manter esse territórios virtuais, além disso monitorarão atividades de risco através das redes sociais comunicando a esses coachs hábitos não saudáveis previamente programados.
                 Consultas virtuais serão cada vez mais rotineiras e seguras. E, por fim, o grande salto da medicina preventiva serão os avanços da genética. Através de programação genética, genes relacionados as doenças crônicas serão retirados do DNA antes mesmo da implantação dos embriões no ventre das futuras mamães ou nos úteros artificiais.
                     É importante ressaltar que um olhar crítico e  ético constante sobre essas novas tecnologias é vital. Todas as tecnologias na saúde devem ter um papel comprovado de melhorar o bem estar das pessoas, sua qualidade de vida e contribuir para o bem comum.


terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Porque a conta da saúde não fecha?










Essa é uma das questões mais procuradas nos últimos anos. Muitos especialistas afirmam que é falta de financiamento, má gestão, corrupção entre tantas outras possibilidades. Em parte eles têm razão, mas o que pouco se discute são os pontos centrais:

1- Vivemos uma crise de mal investimento

Menos de 10% do que temos enquanto saúde se deve a cuidados  médicos, mais de 90% de nosso bem estar deve-se a fatores sociais, ambientais e emocionais. O problema é que investimos todos os recursos dos sistemas de saúde exatamente nesses 10%, o qual sofre grande pressão pelo incremento de novas tecnologias sem ganhos reais de "anos de vida", um indicador de efetividade, por exemplo. A falsa e ilusória expectativa de que investir de forma exponencial nessa caixinha da saúde (10%) está trazendo desequilíbrios e colapsando todos os sistemas de saúde do mundo, além de ampliar cada vez mais a insatisfação dos pacientes. Investimos mal, sob o ponto de vista conceitual do que é realmente saúde. Gastamos mais com doenças do que com prevenção e manutenção do bem estar. O resultado é um modelo insustentável, caro, decepcionante e cada vez mais auto-fágico.

2- Estimulamos um péssimo modelo de pagamento

Copiamos o modelo industrial de produção na saúde. Pagamos de forma cartesiana pela produção de atendimento, procedimentos, dias de internação e  exames. Resultado é uma produção desvinculada de qualidade  e de valor agregado ao paciente. Pagamos, portanto, mal, pois não vinculamos o pagamento ao que realmente importa aos usuários: qualidade e segurança. Além disso, optamos cada vez mais pela imaturidade contratual dos profissionais de saúde, seja por cooperativas, seja por PJ, subterfúgio para fugir de tributos de ambos os lados, resultado disso é uma mão de obra cada vez mais sem vinculo institucional e fragilidade trabalhista, o que impacta no resultado final dos pacientes de forma negativa.


3- Má formação gestora

Esse é outro ponto também um pouco ilusório. Nem um grande gestor vai surgir para salvar o setor  de forma mágica. A adoção de alguns modelos industriais para o setor focado apenas na eficiência tem sido a forma como os governos tem analisado e julgado a qualidade dos gestores de saúde. Isso vem alimentando um feedback destrutivo para vida das pessoas. Nosso atual modelo de descentralização e governança está completamente equivocado. Setor privado e público competindo pela oferta  dos mesmos serviços, em uma simbiose conflituosa, em um sistema fragmentado, sem coordenação e cooperação, tem sido um fator adicional de decadência do setor. Enfim, não temos ministério ou secretarias de saúde, mas de serviços de saúde e programas. O bem estar das pessoas precisa ser agenda prioritária em todas as secretarias de Estado. Sem isso, não poderemos ter resultados sistêmicos. A mídia deveria ter um papel central na melhoria dos sistemas de saúde, entretanto esta tem contribuído de forma superficial, estando mais a serviço de questões periféricas, como moda, estética e denúncias de filas de atendimento, forçando, muitas vezes, a agenda política dos governos se voltarem para questões temporárias e ilusórias.


4- Formamos mal e sem prioridades

 Os cursos de medicina como todos os outros da saúde viraram fontes de lucro de um mercado ávido a pagar por eles. Sem qualquer estudo e regido simplesmente pelo lobby politico, abre-se cursos em locais sem estrutura nenhuma de receber novos cursos. Resultado disso é um formação precária e sem criticidade acadêmica, extremamente vulnerável a pressão dos "investimentos dos 10%" por determinadas industrias. Campo perfeito para aumentar de forma exponencial os custos do setor.

Assim o grande desafio hoje não seria apenas como atrair mais recursos para esses 10%, mas como fazer todos os setores investirem em bem estar de suas sociedades (90%). Como agregar valor onde não tem. Como dar a saúde um papel mais comunitário, social, baseado na solidariedade e na justiça. A saúde das sociedades jamais deveria ser um problema em si, deveria ser algo natural, simples e mais comunitária. Pois enquanto a vida não for prioritária, há uma denúncia simbólica de  anomalia ética das relações humanas.


domingo, 8 de janeiro de 2017

Qual sua responsabilidaide como Líder?


             



       Assim que me formei, entrei para servir como médico na Força Aérea Brasileira (FAB), ao concluir o treinamento militar e retornar à fortaleza, fomos acolhidos por um oficial superior que ficou encarregado de nos transmitir a maior lição que um militar poderia receber. Ele antecipadamente  escreveu  cuidadosamente no quadro branco e resumiu tudo em uma única sigla "MQPOQTJ". Em seguida saiu indagando a cada um o que significava as iniciais, sem fazermos ideia ele prontamente respondeu:

----- Aqui na FAB a lei é o seguinte combatentes: Manda quem pode, obedece quem tem juízo!! Vocês só precisam saber disso para sobreviver aqui!! 

              E assim, ele saiu e nada mais disse. Iniciamos nosso trabalho e eu fui remanejado para servir na unidade de emergência como encarregado, ao propor um serie de mudanças e inovações, fui chamado por esse mesmo oficial que me disse: Breitner, a FAB já teve um inventor que se chamava Santos Dummond, não precisamos de outro aqui, entendeu?! 

               Senti na pele  as consequências ardis do velho modelo de liderança de comando e controle: baixa produção, pouca criatividade, engajamento quase inexistente. A cultura do medo afastava as pessoas de assumir qualquer responsabilidade, assim formava-se oficiais incapazes de pensar e tomar decisão se não existisse algo extremamente previsto em algum regulamento.

           Ao passar o tempo, as pessoas desenvolviam graves problemas mentais, era alarmante a quantidade de militares na reserva ou em fim de carreira, bem como esposas, dependentes de medicamentos para controlar os sintomas de ansiedade e depressão, isso em um país que não sabe o que é guerra!!Como médico, sou testemunha dos malefícios a saúde que esse estilo de gestão provoca nas pessoas!!
                   
            Ao sair da FAB, percebi que aquele modelo era aplicado em várias outras instituições, e pasmem, ele é dominante no ambiente hospitalar!! O que os lideres precisam entender é que o estilo de comando e controle não tem mais aplicabilidade em nenhum tipo de instituição, ele promove, ao longo prazo, apatia e desmotivação generalizada dos colaboradores. Sua importância do passado em épocas de extrema escassez já não move o coração das pessoas do novo século. 

                Em geral,  o que as pessoas buscam hoje é um sentido para suas vidas, um propósito, algo que elas possam seguir, lutar e ser parte delas. A experiência hoje é mais essencial/existencial. Os jovens colaboradores não possuem nenhum interesse em seguir ordens sem questionar, se eles não compreenderem a importância e relevância do que está sendo proposto, tenha certeza que não será feito mesmo que tenham concordado com você, a aceitação foi só para não prolongar o diálogo.
              
           Atualmente, 65% dos colaboradores abandonam não suas empresas, mas seu gerente ou superior e, em sua maioria, são talentos que acabam tendo grande crescimento em outras instituições mas eram barrados pela cultura do comando e excesso de controle.

              Os lideres precisam entender que são responsáveis até pelo humor de seus liderados. Seu humor e motivação influenciam fortemente a disposição de todos ao seu redor. Não é o que o líder fala que ensina algo, mas o que ele demonstra no dia-a-dia em ações é que as pessoas vão dá importância real. As ações do líder é o código de ética vivo da empresa, as pessoas não vão ler normas escritas, mas vão reproduzir o comportamento ético e não ético do líder, goste você ou não disso. 

                 Se não há compromisso da liderança, se este critica destrutivamente sua própria instituição, se este busca apenas culpados por suas próprias falhas, se este não é honesto e transparente,  todos se sentirão no direito de poder fazer o mesmo em uma escala quase infinita.

                     Você tem a opção de não ocupar qualquer cargo em uma instituição, mas se decidir exercer uma função de liderança, entende que tudo ao seu redor é sua responsabilidade. Seu papel moderno é muito mais construir um clima organizacional para as pessoas se desenvolverem plenamente do que controlar tudo ao seu redor. Em um ambiente cooperativo, as pessoas tendem a ser mais responsáveis, honestas, engajadas e criativas. Não há opção para acolher a nova geração sem esse pensamento. Isso também vale para quem deseja construir uma família no novo século. Bom desempenho a todos!


Breitner Chaves