domingo, 19 de junho de 2016

Silenciar é isolar-se?












Silêncio
(Otacilio Lima)


O silêncio da alma é inquietante
Por que a alma não teria nada a dizer?
Será que está pronta para ouvir?
Palavra por palavra, frase por frase
Gesto por gesto, quero significar minha vida
Significa-la para eu mesmo, para ter significado na vida de outros
Sem significado,a vida é mero existência
Silencio, silencio, shiiii
Sofrer precisa de silêncio
Amar precisa do silêncio
Viver precisa do silêncio
A esperança precisa do silêncio
A alma precisa do silêncio"



                   Quando jovem, temia o silêncio. Era uma tortura ficar sozinho sem ninguém por perto. Para mim, como para muitos ocidentais, silêncio cotidiano era sinônimo de morte, término, pranto e depressão.Vivemos em uma sociedade de ruídos, dependemos deles para sermos produtivos, quanto mais ruídos e gente gritando ao nosso redor mas sensação de utilidade social temos, estamos produzindo eletricamente e sem cessar. 
                   Demorei muito para entender que  aprendemos o falso sentido do silêncio, fomos, por isso, educados inconscientemente a evita-lo. Um minuto de silêncio virou uma homenagem a morte. Até mesmo no cristianismo evitamos cada vez mais a prática do silêncio nos cultos e missas, jogamos, assim,  para debaixo do tapete o ensinamento do salmista: "Sê quieto, e sabei que eu sou Deus...
               Certa vez me perguntei porque o gênios da humanidade tinham tanto apreço pelo isolamento, filósofos, cientistas, poetas, profetas e até Jesus, muitos com longos períodos de silêncio em suas jornadas. Foi quando entendi que no silêncio nunca estamos sós, e é nessa morada que todos podemos beber da fonte que nunca acaba, lá damos ouvidos para dama da intuição, que está sempre a postos aguardando o convite. O silêncio não é apenas a ausência de ruído externo e a calmaria dos ruídos internos, é o esvaziar-se plenamente, sendo o caminho para a verdade e a vida.
                       Ao contrário do que imaginava, cada vez que me silencio, menos me isolo, e mais compreendo minha responsabilidade para com a humanidade.

CONFISSÕES
(Mario Quintana)

Que esta minha paz e este meu amado silêncio
Não iludam a ninguém

Não é a paz de uma cidade bombardeada e deserta

Nem tampouco a paz compulsória dos cemitérios

Acho-me relativamente feliz
Porque nada de exterior me acontece...
Mas,
Em mim, na minha alma,
Pressinto que vou ter um terremoto!




"Mas, por que peço silêncio
não creiam que vou morrer-me:

me passa todo o contrário:

acontece que vou viver-me"

( Pablo Neruda)