segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Quando a humanização da Saúde não funciona?


                   





                 Uma das coisas mais curiosas que achei quando entrei na faculdade de medicina foi o ouvir termo "humanização da saúde". Naquela época, acreditava que o respeito e reverência a vida eram suficientes para nossa relação médico-paciente. 
                    Quando eu visitei a Disney, eu tive uma experiência de encantamento, tudo era marcante e vivo. Todos sorriam, lembro das cores, das crianças correndo, dos quiosques e dos brinquedos, tudo era  alegria lúdica naquele local. Não fazia sentido falar em humanização na Disney, eles partiam do pressuposto que nós já éramos humanos, não precisaríamos, portanto, "nos humanizar". O foco era na experiência, tinha que ser perfeito, os detalhes eram importantes.Sempre tinha um jovem feliz para lhe ajudar pronunciando "welcome"!
                Contudo parece-me que ser profissional de saúde adoece. Em uma sociedade em que a felicidade e o sucesso são medidos em cifras, cuidar dos outros é a maior das loucuras. Tenho impressão que a arte de cuidar mata a alma se você não tiver cuidado consigo.
                   O que mais toca meu coração é ver como os profissionais estão esgotados, lidando com um cenário de tragédia diária. Sem nenhum cuidado, são cordeiros sem pastores. Almas perdidas e vagantes, com olhares adultos dispersos, é impossível não perceber a angústia, são espíritos desejantes em serem removidos daquele ambiente hostil.
                   Incapazes de expressar as próprias emoções, iniciam o processo de morte gradual, em que a primeira etapa é o sentimento de frustração e ineficácia do trabalho. Em seguida, aqueles corpos vivos que clamam cuidado, também conhecidos como pacientes, passam a virar objetos como vasos ou colunas para estes, pois o coração já está comprometido. Sim, jesus estava certo, "os olhos veem e a boca fala do que o coração está farto".
                Desmotivação, perda de sentido do trabalho, culpa e depressão são os sintomas finais do burnout em que são submetidos. Não pode existir humanização sem cuidado, sem toque, sem emoção, sem sonhos! Na depressão, não sobra espaço para humanização. Quantos lindos sonhos se vão diariamente nos corredores dos hospitais. Assim, não há encantamento, o doente (o profissional) passa a ser  culpabilizado pela experiência negativa de valor dos pacientes (doentes), retro-alimentando o ciclo de crueldades.
                  Quando vejo um colega feliz por começar a trabalhar em um hospital público, em silêncio, peço a Deus que conserve seu coração como o de uma criança pelo máximo de tempo possível, pois só assim ele poderá sempre ter vida. Como diria Cris Griscon, "a criança é por natureza um ser do encantamento, um ser que experimenta a leveza, e que não retém a dor".
              Um dia espero que possamos promover e reproduzir a todos a experiência  que milhares de turistas têm na flórida naqueles parques, mas antes precisamos cuidar e valorizar a vida de quem decidiu dedicar sua passagem ao afago do próximo.