terça-feira, 26 de agosto de 2014

Como transformar o SUS?




"Para o paciente, o que menos importa é receber um medicamento ou ser atendido em minutos após meses de espera. O que este mais deseja é sentir-se cuidado e ter suas funções habituais restabelecidas com rapidez, zelo e  humanidade".



                     O maior desafio da atenção básica brasileira não é sua deficiente estrutura, insuficiência de recursos ou a suposta falta de profissionais. Ao contrário, o maior obstáculo para seu pleno funcionamento tem sido derivado de um problema de conteúdo ou essência da própria política. Todas os últimos programas criados pelos acadêmicos ministeriais atuam nos rótulos da estratégia  de forma genérica, superficial e sem foco, sendo inevitável uma experiência traumática, quando se necessita dos serviços de saúde pública.
A ausência de uma estratégia voltada para criação de uma “cadeia de valor” e experiência positiva no fluxo do paciente é a grande responsável pela impressão negativa da sociedade perante o projeto nacional de atenção primária. Os executivos do setor precisam alinhar três princípios básicos para iniciar o sucesso dessa rede: foco no paciente, entendimento de como é criado o valor ao cliente e atenção ao tempo adequado as necessidades reais destes. 
                Os profissionais do setor precisam ter ampla criatividade e empenho em promover uma experiência positiva ao usuário, principalmente quando este estiver sem manifestação patológica, invertendo o preconizado pelo o modelo tradicional de atenção. Para o paciente, o que menos importa é receber um medicamento ou ser atendido em minutos, após meses de espera. O que este mais deseja é sentir-se cuidado e ter suas funções habituais restabelecidas com rapidez, zelo e  humanidade.
  O modelo de atenção a saúde atual precisa ser reinventado para continuar demonstrando efetividade junto a sociedade. É preciso reconquistar os usuários do SUS, desconfiados por anos de serviços de péssima qualidade, desumanos e sem foco em suas necessidades fundamentais. Do contrário, corre-se o risco de construir uma grande política de desperdício, fato que ocorre de forma majoritária e lamentável no SUS.
                Sugiro de imediato uma transformação sistêmica e global do atual desenho. Primeiramente, reestruturando-se o foco das equipes da atenção básica. Estas precisam desviar seu olhar para as condições de saúde e funcionalidade dos pacientes de suas áreas geográficas. Ao invés de equipes conduzindo doenças, passariam a gerenciar linhas de cuidado integral de forma proativa, diferentemente  do tradicional modelo reativo. Por exemplo, uma vez estratificado a linha de cuidado do diabético de um região, esse time integral teria como foco conduzir todos os níveis de atenção, agrupando pacientes com necessidade similares com foco em condições de saúde.
            A bela imagem de  médicos generalistas com conhecimento sobre todos os cuidados das doenças, caminhando por estradas do sertão nordestino já não é mais suficiente para atender os anseios da comunidade. Não se constrói um novo SUS tentando replicar experiências do passado. Vivemos um novo tempo, não mais bipolarizado em socialistas e capitalistas, mas em um universo de relações humanas cada vez mais complexas e subjetivas. A atenção agora é na experiência positiva, na personalização do cuidado, não mais simplesmente na cura de doenças.
               Para isso, a rede de atenção básica precisa adquirir novas ferramentas dispostas no mercado para cativar seus clientes. Acompanhamento telefônico, mobile marketing, mídias sociais, marcações, agendamento e monitoramento online são alguns exemplos, entre outros, que devem de imediato serem incorporadas as linhas de cuidado, com intuito de conquistar e satisfazer  a moderna sociedade.
             Devemos ser obcecados na conquistas da credibilidade do SUS junto a população, conduzindo os cuidados com menos burocracia, fluxos mais enxutos, redução da nefasta interferência partidária, grupos de gestão transfuncionais. Assim, extrapolaríamos a simplista composição de profissionais de saúde a frente dos processos assistenciais, com times gerenciais envolvendo profissionais de logística, engenharia, processos, teleinformática, comunicação social, marketing, administração e “Black Belts" de diversas áreas no monitoramento, controle e avaliação desse novo sistema.

Um comentário:

  1. Não adianta ter médicos se não há resolutividade. Paciente cliente do SUS merece receber a evolução da ciência e tecnologia, que muitas vezes foi testada e atestada com sua participação . Espero que as mentes do comando consigam ver a todos como iguais, sem esmolas médicas, ofertadas aos pacientes como se não merecessem o melhor, enquanto eles ,os dirigentes, têm direito a Medicina de alta performance.

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