domingo, 27 de novembro de 2016

Eutanásia Social ( Mistanásia).










                 Os debates éticos sobre eutanásia são ainda muito presentes em vários países do mundo. Com exceção de poucos países como, por exemplo, Holanda e Bélgica, o ato de um médico ou profissional de saúde atuar diretamente em ação que provoque o óbito sem sofrimento de um indivíduo em situações específicas consiste em atitude ilícita. Os argumentos são diversos sobre o tema, onde se mesclam muitas vezes aspectos religiosos, culturais e morais de cada país. Contudo, pouco se debate sobre a mistanásia.
                 A mistanásia ou eutanásia social significa a morte miserável fora e antes do seu tempo. Em outras palavras, consiste na morte precoce, extratemporal, como consequência da pobreza, violência, droga, chacinas, falta de infraestrutura e condições mínimas de se ter uma vida digna.
               Nas unidades de saúde brasileiras é muito comum a omissão de socorro estrutural que atinge milhões de doentes durante sua vida inteira e não apenas nas fases avançadas e terminais de suas enfermidades. São as vidas a deriva nos inúmeros corredores do país ou nas intermináveis filas de procedimentos vitais, como diagnóstico e tratamento precoce do câncer. Outra forma comum e não contabilizada é a morte precoce por falta de acesso mínimo aos cuidados de saúde em diversos níveis.
        A mistanásia é a face perversa da sociedade, não tem culpados, mas possui uma responsabilidade coletiva. Esta tem como raiz central o desrespeito a vida humana, o que a torna moralmente aceitável. Quanto menos fora do centro da sociedade é o compromisso ético com a vida, mais ela é marcante. Ela é colocada para debaixo do tapete, pois é dolorosa e evidencia nossa crueldade enquanto seres conscientes. 
            Muitos filósofos concordam que o respeito é um valor nuclear humano, este valor significa simplesmente o reconhecer da existência e necessidades do outro, mas a vítima de mistanásia é anônima, seu “eu” não é sequer uma estatística para o Estado.
             Não se pode esperar um estado de direito onde não existe respeito. Se há mistanásia e ela é moralmente aceitável, é preciso redesenhar o escopo da sociedade, o planejamento inicial falhou, o simples texto constitucional não foi suficiente e as leis podem ter servido a propósitos não prioritários ou particulares. Sem respeito, justiça e solidariedade não se pode avançar na construção de uma sociedade verdadeiramente ética.

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