sábado, 1 de outubro de 2016

A poesia curativa!













Quando era adolescente o primeiro contato que tive com poesia foi na disciplina de literatura, lá me ensinavam as características dos poemas através das escolas literárias, as métricas, as regas e todo o fardo rigor do tecnicismo. Houve época que o método era preferível ao conteúdo. É uma pena que o modelo cartesiano também tenha deixado os  rastros de sua engenharia na literatura. Claro que eu detestava a disciplina e passei a odiar literatura, leitura e poesia. Aquilo não me atraia, não era palpável, era frio e sem alma. Minha relação com a poesia foi de guerra por vários anos.
Um dia eu assisti a um filme chamado sociedade dos poetas mortos que mostrava a criatividade de um professor ao fazer com que seus alunos passassem a encantar-se  com a poesia e a desenvolverem suas habilidades poéticas. A partir desse filme, comecei a ver que todos nascem poetas, a vida adulta é que vai nos roubando a capacidade de ver a vida mais bela. A criança, por exemplo, é a maior de todos as poesias. Ela é um poema encarnado. O sorriso de uma criança deflagra uma emoção incomparável, por outro lado, o sofrimento de uma criança nos fere profundamente. A poesia não precisa ser escrita, ela pode estar em forma de um abraço, um afeto, um gesto significativo, e tudo mais que nos toca e nos faz lembrar nossa humanidade.
Existe também o poeta, aquele que capta as emoções coletivas e consegue traduzir estas em símbolos, através de escritos e/ou da arte. Foi só depois que conheci Rubem  Alves, Cecilia Meireles, Pablo Neruda, Clarice Lispector, Vinicius de Morais, etc  que eu entendi o que era poesia. A métrica não é o fim em si para estes poetas/profetas.
Sim, todo poeta é também um profeta de seu tempo. Tem gente que acha que a maior habilidade do profeta é a previsão do futuro, mas em verdade o maior talento profético é a capacidade de fazer a leitura das dores de seu tempo, é no presente que vive o coração do verdadeiro profeta/poeta. Ele converge as angústias, os medos, as aflições de seus próximos e muitas vezes as convertem em esperança, e isso também é um exercício de amor, a mais bela das poesias.
 Lemos poesia para vermos nossas próprias dores sob uma nova perspectiva. Ver o registro, um escrito de algo que apenas sentimos traz para o consciente aquela emoção latente no peito, abre também a chaga mal cicatrizada, colocada para debaixo do tapete, sendo, portanto, uma nova oportunidade de uma cura real, um suave convite a cartase.
            Existe um sintoma que não é descrito na medicina, mas é um forte preditivo da iminência da morte: é a incapacidade de ver beleza no mundo. Ela antecede, muitas vezes em anos, a morte física e torna a vida um cemitério. Que sua vida seja uma eterna poesia, antes que os dias de escuridão se tornem reais



Nenhum comentário:

Postar um comentário