DISCURSO DE CONCLUSÃO DA 1 TURMA DE EXECUTIVOS DA SAÚDE DA FGV CEARÁ
Orador: Breitner Chaves
Custos
crescentes e insustentáveis, inabilidade técnica gestora, visão de curto prazo,
má qualidade dos serviços, insatisfação dos usuários, erros assistenciais graves, todos esses são apenas alguns
do complexos problemas daquilo que se tornou o sistema de saúde brasileiro, o SUS. Um verdadeiro
gigante desconfigurado em relação ao
modelo de proteção social proposto no pós-ditadura, idealizado como fruto
do sonho dos reconquistadores da liberdade em várias esferas da sociedade. Mas
afinal, como os executivos da saúde irão lidar com esse cenário no século 21?
O primeiro passo acabamos de
concluir, ousamos sair da zona de conforto de nossas áreas assistenciais para
nos capacitarmos tecnicamente para o enfrentamento desse desafio. Contudo, para a resolução sistêmica desses
problemas ainda nos serão necessários algumas ponderações.
Por muitos anos acreditamos no
modelo mental, politico, biológico e filosófico cartesiano. Causa e efeito,
correlações de fatores, explicações matemáticas do mundo e das relações de suas
partes. Fomos forjados na máxima newtoniana em que as partes explicam o todo, a
famosa “Máquina do mundo” guiou toda nossa base social. Para piorar,
mecanizamos até nossas relações humanas, e tentamos, a todos custo, encaixar a
vida na “curva em forma de sino”( Curva de Gauss) que não passa de um modelo
matemática teórico, muito distante da vida real e dos fenômenos sociais.
O comando e controle taylorista das
unidades de saúde já não é capaz de lidar com a realidade complexa dessa década
e muito menos das próximas. O setor saúde exige pensadores sistêmicos, homens e
mulheres que apontem novos caminhos, novos modelos. Lideranças criativas e
inovadoras, dispostas a proporem uma verdadeira revolução no setor.
Heisenberger, físico alemão, diante da ainda
incipiente descobertas do mundo subatômico em sua época falou: “O que nós
observamos não é a própria vida, mas a vida exposta ao nosso método de
indagação”. Ele falou isso referindo-se ao estranho comportamento do elétron, que
ora se comportava como matéria (partícula), ora como onda, dependendo da forma
como o observarmos. Essa descoberta fez com que mente e matéria deixassem de
ser insolúveis como imaginou descarte. Com base no mundo subatômico, a mente do
observador poderia alterar a própria realidade, moldar o comportamento da
matéria. Uma ruptura de paradigma sem precedentes.
Trazendo para nossa realidade,
questiono-me se, diante de todos esses problemas, estamos fazendo a pergunta certa, observando pelo ângulo correto? Talvez estejamos tão focados
procurando soluções para o ciclo processos, custeio, financiamento que dedicamos
pouco tempo para refletirmos estrategicamente sobre as perguntas chaves,
aquelas atinjam o núcleo central dos problemas.
O novo executivo muito mais que um
engenheiro de soluções, deverá ser hábil na arte de realizar perguntas incisivas, cirúrgicas, no momento certo.
A boa pergunta, transforma a resposta irrelevante e pequena. Nessa perspectiva,
modelos de causa e efeito fazem muito pouco sentido.
Antes de qualquer avanço real,
teremos que responder algumas questões nucleares, como por exemplo: Porque nosso modelo de saúde não respeita a vida
humana? O que nos faz considerar normal seres humanos nesse exato momento
morrerem em corredores de hospitais de forma indigna? O que verdadeiramente nos
impede de construir um sistema ético, ou seja, focado no bem comum? Perguntas
desafiadoras destroem paradigmas e transformam o mundo. Na obra pequeno príncipe, encontramos uma exortação desconcertante e que cabe
adequadamente nos dias de hoje: “O
essencial é invisível aos olhos, e só é possível se vê bem com o coração”
Tenho certeza que esse grupo de executivos,
guiados pela convicção de seus corações, alinhado com suas capacidades técnico-cognitivas, sairá daqui preparado para a busca de soluções sistêmicas
ante os problemas complexos que esse novo século exige. Somos uma equipe, conectados, a frente
de diferentes instituições, conscientes de nossos papeis na construção de um
mundo melhor, mais sustentável, ético e humano.
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