segunda-feira, 9 de novembro de 2015

Oratória MBA FGV




DISCURSO DE CONCLUSÃO DA 1 TURMA DE EXECUTIVOS DA SAÚDE DA FGV CEARÁ


Orador:  Breitner Chaves

            Custos crescentes e insustentáveis, inabilidade técnica gestora, visão de curto prazo, má qualidade dos serviços, insatisfação dos usuários, erros  assistenciais graves, todos esses são apenas alguns do complexos problemas daquilo que se tornou o sistema  de saúde brasileiro, o SUS. Um verdadeiro gigante desconfigurado em relação ao  modelo de proteção social proposto no pós-ditadura, idealizado como fruto do sonho dos reconquistadores da liberdade em várias esferas da sociedade. Mas afinal, como os executivos da saúde irão lidar com esse cenário no século 21?
                 O primeiro passo acabamos de concluir, ousamos sair da zona de conforto de nossas áreas assistenciais para nos capacitarmos tecnicamente para o enfrentamento desse desafio. Contudo, para a resolução sistêmica desses problemas ainda nos serão necessários algumas ponderações.
                  Por muitos anos acreditamos no modelo mental, politico, biológico e filosófico cartesiano. Causa e efeito, correlações de fatores, explicações matemáticas do mundo e das relações de suas partes. Fomos forjados na máxima newtoniana em que as partes explicam o todo, a famosa “Máquina do mundo” guiou toda nossa base social. Para piorar, mecanizamos até nossas relações humanas, e tentamos, a todos custo, encaixar a vida na “curva em forma de sino”( Curva de Gauss) que não passa de um modelo matemática teórico, muito distante da vida real e dos fenômenos sociais.
             O comando e controle taylorista das unidades de saúde já não é capaz de lidar com a realidade complexa dessa década e muito menos das próximas. O setor  saúde exige pensadores sistêmicos, homens e mulheres que apontem novos caminhos, novos modelos. Lideranças criativas e inovadoras, dispostas a proporem uma verdadeira revolução no setor.
                   Heisenberger, físico alemão, diante da ainda incipiente descobertas do mundo subatômico em sua época falou: “O que nós observamos não é a própria vida, mas a vida exposta ao nosso método de indagação”. Ele falou isso referindo-se ao estranho comportamento do elétron, que ora se comportava como matéria (partícula), ora como onda, dependendo da forma como o observarmos. Essa descoberta fez com que mente e matéria deixassem de ser insolúveis como imaginou descarte. Com base no mundo subatômico, a mente do observador poderia alterar a própria realidade, moldar o comportamento da matéria. Uma ruptura de paradigma sem precedentes.
                  Trazendo para nossa realidade, questiono-me se, diante de todos esses problemas, estamos fazendo  a pergunta certa, observando pelo ângulo correto? Talvez estejamos tão focados procurando soluções para o ciclo processos, custeio, financiamento que dedicamos pouco tempo para refletirmos estrategicamente sobre as perguntas chaves, aquelas atinjam o núcleo central dos problemas.
                O novo executivo muito mais que um engenheiro de soluções, deverá ser hábil na arte de realizar  perguntas incisivas, cirúrgicas, no momento certo. A boa pergunta, transforma a resposta irrelevante e pequena. Nessa perspectiva, modelos de causa e efeito fazem muito pouco sentido.
                Antes de qualquer avanço real, teremos que responder algumas questões nucleares, como por exemplo: Porque  nosso modelo de saúde não respeita a vida humana? O que nos faz considerar normal seres humanos nesse exato momento morrerem em corredores de hospitais de forma indigna? O que verdadeiramente nos impede de construir um sistema ético, ou seja, focado no bem comum? Perguntas desafiadoras destroem paradigmas e transformam o mundo.  Na obra pequeno príncipe, encontramos uma exortação desconcertante e que cabe adequadamente nos dias de hoje: “O essencial é invisível aos olhos, e só é possível se vê bem com o coração”

            Tenho certeza que esse grupo de executivos, guiados pela convicção de seus corações, alinhado com suas capacidades técnico-cognitivas, sairá daqui preparado para a busca de soluções sistêmicas ante os problemas complexos que esse novo século  exige. Somos uma equipe, conectados, a frente de diferentes instituições, conscientes de nossos papeis na construção de um mundo melhor, mais sustentável, ético e humano.

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