sexta-feira, 30 de março de 2012

Meu "precioso" erro médico

                     




                      Raras vezes presenciei algum  discípulo de esculápio  confessar que cometeu um erro.Tal assunto é visto pela classe como um verdadeiro "tabu", ou um enigma simbólico do fracasso e despreparo profissional.Quando comete-se uma falha, esta é , de imediato, lançada ao núcleo central secreto do médico, tão intocável e intangível quanto o seu próprio orgulho. Leis não faltam para penalizar aquele que comete um deslize, o que favorece essa atitude introspectiva diante do assunto.
                            Infelizmente, o ser humano não é regido por variáveis matemáticas, a fisiologia raramente é prevista com a precisão de cálculos objetivos e frios.Por mais avançado que estejam os níveis de evidências que orientam a nossa conduta profissional, ainda nos deparamos diariamente com situações inusitadas, imprevistas, que nos obrigam a tomar decisões subjetivas. Não obstante, nem sempre  escolhemos a melhor conduta clínica para nossos pacientes.
                              Dessa forma, peço desculpas a sociedade, mas o erro médico de fato existe!! Erramos quando não fazemos a melhor escolha, quando não respeitamos as singularidades dos indivíduos, quando prescrevemos o medicamento mais caro e obsoleto, quando somos omissos , imperitos, negligentes e imprudentes. Erramos ainda quando aceitamos um sistema de saúde pública corrompido para todos os lados que direcionamos nosso olhar, quando menosprezamos o pobre sertanejo à  espera da morte em um corredor de hospital, erramos, ainda, quando a humanização diária deixa de existir. Por último, o erro mais comum é aquele que cometemos quando deixamos de fazer nosso melhor quando as circunstâncias nos permitem, ou deixamos de nos revoltar quando a situação exige uma atitude radical em prol da saúde coletiva
                               Temos que encarar o erro médico com serenidade, compartilhar as ações não exitosas para que os erros não sejam repetidos. Publicamos sempre experiências bem sucedidas, mas onde o jovem médico pode buscar auxílio para evitar os erros mais comuns? O bom médico sempre comete equívocos, ilude-se aqueles que pensam o contrário, errar é algo inato ao ser humano, com eles que aprendemos e nos aperfeiçoamos. Não faço apologia a falha, mas exorto a todos para refletirmos quanto as nossas atitudes.Tenhamos mais humildade e aceitemos nossa real situação, de homens e mulheres que ainda têm muito a aprender, e que ainda engatinham nas sendas da sabedoria da vida.

                        

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